A convergência entre Inteligência Artificial (IA) e Biologia Sintética está moldando a próxima revolução industrial, prometendo um impacto econômico de trilhões de dólares e a criação de milhões de empregos até 2030. No entanto, essa onda de inovação também levanta preocupações significativas sobre riscos éticos, sociais e de segurança, exigindo regulamentação e monitoramento cuidadosos.
A Próxima Onda de Inovação Tecnológica
Um estudo do Boston Consulting Group (BCG), intitulado "Looking to Nature for the Next Industrial Revolution", destaca que a próxima grande onda de inovação tecnológica será impulsionada por avanços em campos como inteligência artificial, biologia sintética, nanociência e computação quântica. O Fórum Econômico Mundial estima que essa disrupção pode gerar oportunidades de negócios anuais de US$ 10 trilhões e criar 395 milhões de empregos até 2030. O BCG projeta um impacto econômico de mais de US$ 30 trilhões nas próximas três décadas, o equivalente a 40% do PIB global atual.
Essa revolução é particularmente transformadora para setores como farmacêutico, químico, agricultura, abastecimento de alimentos, manufatura e materiais avançados, superando o impacto das tecnologias digitais anteriores.
Características da Revolução e o Ciclo DBTL
O processo revolucionário é caracterizado por quatro elementos principais:
- Abordagem de Tecnologia Profunda: Foco em inovações científicas e de engenharia fundamentais.
- Manipulação Atômica: Capacidade de manipular matéria inorgânica e orgânica em nível atômico.
- Design Inspirado na Natureza: Utilização dos princípios de design e fabricação da natureza.
- Oportunidades de Negócio Sustentáveis: Criação de negócios com potencial significativo para o avanço da sustentabilidade.
Esses elementos formam o ciclo Design-Build-Test-Learn (DBTL), que imita os processos da natureza. Um exemplo notável é a produção de fertilizantes de amônia e nitrogênio. Tradicionalmente, esse processo consome grandes quantidades de energia e contribui significativamente para as emissões de CO2 e N2O. Com o DBTL, microrganismos podem ser projetados para substituir fertilizantes químicos, fixando nitrogênio diretamente nas raízes das plantas. Isso reduz a dependência de fertilizantes, diminui as emissões de gases de efeito estufa, minimiza a poluição da água e aumenta a eficiência agrícola.
Outros exemplos incluem o uso de IA e automação para descobrir produtos químicos e materiais avançados, e a reciclagem de resíduos industriais para fermentar combustíveis, proteínas e fibras.
Oportunidades e Riscos da Convergência
A IA e a biologia sintética, juntas, oferecem oportunidades sem precedentes, mas também apresentam riscos imprevisíveis. Julio Cesar Marcellino Jr., doutor em Direito, destaca que a IA já superou a capacidade humana em diversas tarefas complexas, desde o reconhecimento facial até a composição musical. A biologia sintética, por sua vez, permite a fabricação de DNA, com o custo dos sintetizadores em queda e sua proliferação crescente. Isso levanta a preocupação de que, em breve, qualquer pessoa treinada poderá manipular material genético, potencialmente criando patógenos mais letais e resistentes a tratamentos conhecidos.
Autores como Mustafa Suleyman e Michel Bhaskar, em seu livro "A Próxima Onda", alertam que essas tecnologias precisam ser contidas e gerenciadas. Eles preveem riscos como invasões de privacidade em massa, explosão de desinformação, desemprego em larga escala e guerras cibernéticas altamente letais. A proliferação caótica dessas inovações pode levar a um "tsunami" tecnológico, com o potencial de criar uma distopia tecno-autoritária, ameaçando os pilares do Estado-Nação.
A Necessidade de Regulamentação e Monitoramento
Para mitigar os riscos, governos e instituições devem continuar a apoiar a pesquisa básica, construir infraestrutura e definir padrões industriais. Além disso, desempenharão um papel crucial na definição de regulamentações e normas éticas para combater o medo e a desinformação que podem ameaçar a aceitação pública dessas tecnologias transformadoras. É fundamental que os avanços tecnológicos sejam monitorados e gerenciados com cuidado para garantir que beneficiem a sociedade sem comprometer a segurança e a ética.
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